3.2.09

A Igreja de São Roque banhada pelos raios de oiro do sol poente e os quadros de Madre Augusta



A IGREJA DE SÃO ROQUE

"Em companhia do sr. redator de "Resenha", visitei recentemente o formoso templo que o espírito de fé rio-pardense erigiu em honra do taumaturgo de Montpellier, cujo nome o hagiológio cristão guarda e perpetua como uma das figuras principais da igreja.
Como é do domínio público, é nessa nova casa de Deus que o Exmo. Revdmo. d. Afonso Herm, abade da colenda Ordem Cisterciense, vai lançar os fundamentos do futuro Mosteiro de São Bernardo, destinado a formar em nosso meio um núcleo de homens ilustrados afeitos à disciplina de trabalho e adoração.
Magnífica foi a impressão que tive de conhecer o interior do templo. Em tudo transparece a mistura da harmoniosa sobriedade e de velada poesia, própria das coisas santas. A austeridade dos altares alia-se a estudada singeleza de todo o conjunto, singeleza essa que nada altera a magnitude do ambiente.
Valiosos quadros a óleo ornamentam a nave da igreja. Todos eles são custosos objetos de arte, alguns de autoria de pintores de fora e outros, tais como os de São Bernardo, Santa Terezinha, Coração de Jesus e Santo Antônio, executados pela Revma. Madre Augusta, superiora do Instituto da Beata Maria Virgem, sediado nesta cidade.
São dignos da mais honrosa menção os trabalhos artísticos da Madre Augusta. Notadamente, na tela de São Bernardo, qual lídima discípula de Fra Angelico. Madre Augusta tirou de sua paleta as cores com que, reproduzindo o original, deu à fisionomia do santo aquela seráfica postura como quando ele se voltava, nas horas de meditação, aos seus colóquios com Deus.
Merecem especial referência os dois grandes vitrais que se vêem paralelos à altura do forro, na nave central. Um deles representa em tamanho natural o milagroso São Roque. O outro é uma comovente evocação do prodígio, em virtude do qual, de sua sepultura de rosas, ascendeu aos céus, a 8 de agosto, a Virgem da Assunção.
Ao longo das paredes laterais, traduzem a Santíssima Trindade — o Pai, que com o "fiat" tirou do caos e das nebulosas o mundo em que vivemos; o Filho, que remiu com seu sangue as misérias humanas; e o Espírito Santo, a luz que haveria de jorrar, iluminado sempiternamente os destinos das nações.
Ao fundo, na capela mor se vêem outros onde se retratam os mistérios sublimes da transubstanciação: a videira, de um lado, o pão ázimo do outro e no centro o ostensório que guarda o alimento eucarístico.
Depois de haver visitado a majestosa nave, subi com o d. abade e o sr. Artese a escada que conduz ao coro.
Caía, à essa hora, sobre o interior da igreja, pelas janelas entreabertas, os raios de oiro do sol poente. À luz tênue bailando sobre as colunatas do templo, osculando as veneráveis figuras dos patriarcas, parecia-lhes transmitir a seiva da vida, dando à placidez de seus olhares mortos o sentido da visão".

Texto de Octavio Pereira Leite, publicado em "Resenha", junho de 1942.
O advogado Octavio Pereira Leite foi cartorário, prefeito nomeado (1946/47) e escritor. Chegou a São José do Rio Pardo na década de 1930 para trabalhar no Cartório de Clóvis Pacheco Silveira, situado defronte ao Hotel Paulista. Escreveu diversos artigos na imprensa rio-pardense, principalmente na "Resenha". Mudou-se para São João da Boa Vista e foi membro da Academia Sanjoanense de Letras. Em 1953, junto com a professora Miriam Pipano, fundou em São João um conservatório musical. Escreveu um livro de memórias — "Velhas Páginas".

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