
Não é difícil. Tente imaginar pessoas saindo da missa na Matriz, em uma agradável noite de domingo, em abril de 1926. Visualize-as passeando ao redor do jardim, a praça 15 de Novembro, mulheres em uma direção e homens em outra — "o bonde". Outras estão próximas ao coreto de madeira, apreciando as valsas e polcas da Lyra Riopardense. Imagine o pequeno Theatro São José, o theatrinho, ali mesmo na Marechal Floriano, repleto de pessoas curiosas para ver "o maior dos films", "A Mulher Mosca". Imagine os gritinhos das senhoritas e os sussurros da platéia espantada-encantada com as imagens em preto e branco na alva tela do único cinema. Agora imagine o final da sessão, as pessoas saindo, mocinhas comprando doces na bomboniere do theatro e rapazotes animados subindo a rua Américo de Campos, comentando esta ou aquela cena. "Mas ela não tinha asas", comentava um deles. Para finalizar, imagine uma jovenzinha preparando-se para dormir, a cabeça no macio travesseiro evocando docemente a lembrança dos olhares desviados e trocados naquela noite, no escuro do cinema. Não assistira ao "maior dos films", a mocinha já de olhos cerrados, preparando-se para sonhar com romances e artistas, naquela noite de domingo, abril de 1926.
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