(...) De Descalvado enviaram-me um periódico, pretendendo incutir que "Os Sertões", o livro célebre de Euclides da Cunha, foram escritas em uma fazenda do pai do escritor, em Descalvado. Nada mais falso; é mais uma lenda, e esta da cachola da ex-viúva Saninha que, quando moça, tinha pouco miolo, e que agora está beirando as 80 primaveras (...)
Posso contestar com a maior franquesa (...) porque eu vi, com os meus olhos que a terra há de comer, as primeiras tiras do livro, para copiar. (...) Posso dizer que vi Euclides escrever no ranchinho, sob a folhagem da paineira, remanescente das matas primitivas (...) Sou testemunha e ninguém me poderá contestar. E não é vaidade tola, vi o livro quando era elaborado, e algumas vezes lido aos amigos.
Saninha está desmemoriada, coitada! (...)
Se o articulista de Descalvado quer fazer uma enquete, que venha a esta cidade e poderá inquirir uns 30 trabalhadores da ponte, gente que ainda tem o juízo são, e centenas de pessoas que conheceram Euclides. (...) Escrevia também à noite em seu pequeno escritório, em sua residência. Não ponho em dúvida que o célebre e futuro lendário escritor tivesse refundido períodos do livro em solar paterno. Era uma de suas manias, aqui mesmo eIe modificou alguns capítulos, refundiu e burilou outros. (...)
Ninguém mais fortemente confirma que o célebre livro foi escrito nesta cidade do que o próprio Euclides. Do Rio, em carta a Francisco Escobar, diz: ‘(...) Como e difícil estudar-se e pensar-se aqui! Que saudades do meu escritório de folhas de zinco e sarrafos da margem do rio Pardo.’ (...)
Jamais alguém ousou contestá-lo, agora vem Saninha (...). Ela é suspeita (...) Sua memória, é natural, já se vai obumbrando.
Braziliófilo (...)
Texto de José Honório de Sylos, o Braziliófilo, citado por Rodolpho José Del Guerra.
16.7.08
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