7.2.08
Baderneiros ou republicanos?
Marcos Celeste, especial para o DEMOCRATA
No ano de 1889 aconteceu um fato muito marcante para a cidade de São José do Rio Pardo, nos dias 10 e 11 de agosto desentendimentos ocorridos entre Ananias Barbosa que era proprietário do Hotel Brasil e republicano e o Cabo Francisco Rego que representava a lei e a ordem imperial na cidade, agitaram a então Vila. Até hoje muito se fala desse acontecimento que ficou conhecido como: "a republica antecipada de São José do Rio Pardo" ou "Episódio Republicano". Os artigos jornalísticos e outros trabalhos escritos feitos no decorrer do século XX atestaram este fato como sendo uma disputa entre republicanos e monarquistas locais.
A partir dos estudos do professor Rodolpho José Del Guerra no seu mais novo livro "O Décimo Terceiro" percebemos que o início de tudo foi uma questão pessoal envolvendo Ananias Barbosa e o cabo e que nada tinha a ver com as questões políticas de então (crise do regime imperial). Ocorre que esta questão pessoal rapidamente se alastrou pela Vila rio-pardense, pois os cabos revoltados com a situação atacaram o hotel, e depois amigos daquele proprietário, muitos deles republicanos, revidaram e conseguiram amealhar capangas nas fazendas para o ataque contra os oficiais. As informações do processo que relatava o tal episódio confirmaram que os capangas a mando de Ananias Barbosa prenderam o capitão Saturnino Frauzino Barbosa ligado ao Partido Liberal e ocuparam a cadeia e a Câmara municipal, mas isso durou até a chegada do Juiz de Direito e Municipal do termo e o delegado que logo ordenaram à soltura do capitão.
Talvez Ananias Barbosa tenha aproveitado o momento de maneira política, alegando que toda essa perseguição se deu pelo fato de seus posicionamentos e desta forma tentou forjar um sentimento popular naqueles capangas e fazendeiros que colaboraram com o seu revide, contudo isso não passa de suposição.
O ambiente riopardense estava envolvido no processo político de então, ou seja, a crise do império e o fortalecimento da elite cafeeira paulista. Essa elite que acreditava que a republica poria fim aos vícios políticos de nossa monarquia.
O caso pode ter sido apenas uma contenda policial, mas quiseram as fofocas, os comentários, as crônicas, os artigos de jornais que o fato ganhasse conotação política e assim passaram a refratar como se dava a participação dos mais variados agentes políticos de então e como se davam as intrigas e relações políticas do local. Importante notarmos que neste processo houve a participação de capangas, ex-escravos, imigrantes, profissionais liberais e fazendeiros, isso pode vir contribuir com o fim da idéia de que na política só participaram membros da elite, para nós todos participaram dentro de suas possibilidades de ação construídas pelas realidades históricas de então.
Por isso para um historiador mais importante do que saber se o episódio ocorreu ou não, se aquilo era verdade ou não é procurarmos observa-lo a luz da época e dos anseios daqueles que lá viveram e não, somente, através de nossas indagações presentes.
Marcos Celeste, formado em história pela Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" (UNESP-Franca) e atualmente mestrando por esta mesma universidade.
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