(...) Peço escusas, senhores Acadêmicos, por este instante de municipal e romântica evocação. É que não posso esquecer, nesta hora, São José do Rio Pardo, minha terra natal, uma lindeza de cidade!
Emoldurada de montanhas, que trazem a etiqueta da Mantiqueira, ela se inclina sobre o Rio Pardo, sinuoso, encachoeirado e poético. Às suas margens, numa choupana, enquanto construía uma ponte, Euclides da Cunha, como sabeis, escreveu "Os Sertões". Essa sugestiva paisagem teria, na opinião de Pedro Calmon, exercido poderosa influência no espírito do escritor.
Nessa cidade privilegiada, fiz o curso primário. Lembro-me, como se fosse agora; das lições que preparei na mesa com tampa forrada de feltro verde, na qual o grande escritor compôs sua obra monumental, e que, ao partir, deu a meu pai, dizendo: "Esta mesa é esquisita como eu: não tem gavetas".
Nasci, sim, em São José do Rio Pardo, no belo e amplo Largo da Matriz, marco zero e coração da cidade. Nascer no Largo da Matriz é ter duplicada prova de cidadania.
Esse Largo está plantado no topo da colina, de onde se descortina panorama de incomparável beleza. .
Minhas raízes ali estão, nesse pedaço de São Paulo. Ali aprendi a rezar. Ali acompanhei,
maravilhado, minha primeira procissão. Ali fui menino e adolescente. Ali meus pais baixaram ao seio da terra generosa. Ali fiquei sabendo o que era um dobrado bonito, executado pela Banda do Foca Cônsolo.
Ali tive minha primeira namorada.
E tive sarampo.
Ah! dou razão a Manoel Bandeira, "... a delícia de poder sentir as coisas mais simples da vida." (...)
Honório de Sylos
9.1.08
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