15.9.09

São José do Rio Pardo: ruínas sobre ruínas

O texto a seguir foi extraído do extenso boletim "Ao Povo Riopardense", de março de 1946, assinado por Francisquinho Dias (foto), prefeito de São José do Rio Pardo por dois períodos — 15/1/1929 a 14/1/1930 e 15/1/1930 a 23/12/1930. No período a que se refere Francisquinho Dias — 1937 a 1946 — ocuparam o cargo de prefeito Antônio Ribeiro Nogueira Júnior, Aurino Villela de Andrade e Octavio Pereira Leite.






(...) Depois do estado-novo e dos milhões que gastaram, o que resta do nosso município e nossa cidade? Ruínas sobre ruínas.
Na sede de assalto aos cargos com que entraram, começaram dispensando o braço direito da administração municipal, o diretor de obras Francisco Rugani, rapaz inteligente, trabalhador e profundo conhecedor do assunto, para no seu lugar colocar um protegido, um espertalhão, que por ser extrangeiro não poderia ocupar o cargo, completa nulidade, e que de obras só entende as que fez em criança.

Têm sido um desastre as obras municipais, caríssimas, dada a burrice e incompetência do diretor de obras.

É tal o estado de miséria das nossas estradas, que serão necessárias as verbas de várias arrecadações para deixá-las em ordem.

Nas ruas uma seqüência de buracos, cobertas de mato, onde serena e tranquilamente pastam cavalos, cabritos, porcos, sob as vistas piedosas do prefeito e seus fiscais.

A quantidade de cães vadios que perambulam pelas ruas em espetáculos indecorosos, já valeu para nossa cidade o título bem à estado-novo — Paraíso dos Cachorros. De Prefeitura Municipal passou a uma verdadeira sociedade protetora dos animais.

Orgulho dos rio-pardenses, os seus jardins, criminosamente transformados em matagais, e o único que resta é tal o mau trato e falta de gosto, que decepciona.

Não sei como a população ainda não sofreu um surto epidêmico, tal o barro vermelho e fétido que nos chega à torneira no lugar de água, assim como as águas apanhadas no rio e córrego que servem a cidade e sem nenhum critério despejadas na caixa distribuidora. Que bons tempos, antes de 1937, quando a água nos chegava à torneira clara e bem limpinha.

A falta de pintura e casas esburacadas em pleno centro da cidade dá-lhe o aspecto de cidade abandonada.

Incompreensível o capricho criminoso para com o prédio do Mercado, caindo aos pedaços, servindo de privada a vadios que ali praticam atos atentários à moral pública com o pleno conhecimento do prefeito e delegado de polícia. Completa falta de higiene, principalmente nas bancas onde se vendem verduras e gêneros alimentícios à população.

Seria bem mais honesto se tivessem aplicado na conservação d’esse prédio, perto de 20 mil cruzeiros que sem a devida autorização atiraram fora, na construção de um barracão para cabaret na Ilha São Pedro, hoje em completo abandono.

Quadros que tanto depõem contra moral, vadiagem e contravenções, a que assistimos diariamente sem a menor providência por parte do prefeito e do delegado de polícia. (...)"

Francisco Spinola Dias

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