15.12.08

“A villa muito em breve será uma lindíssima cidade”

Em 1887 São José do Rio Pardo completava seu primeiro ano de vida autônoma como vila. A pequena capela, construída pelos pioneiros estava em estado bastante precário. A iluminação pública começava a ser instalada. A ponte metálica não existia e a travessia do Pardo era feita por duas balsas. A Câmara era presidida pelo fundador coronel Antônio Marçal Nogueira de Barros. O relato a seguir, escrito por Aprígio Cesarino, foi publicado no "Diário Popular",
de São Paulo, em outubro de 1887.



Esta florescente e nova localidade dista de Casa Branca 35 kilometros e 9 da Estação de Engenheiro Gomide, presentemente ponto terminal do ramal que começa naquella cidade e termina no rio das Canoas, passando por Mococa.
A villa está situada em logar elevado e bastante accidentado, à margem esquerda do rio Pardo, onde este rio descreve uma curva.
Os horizontes não são vastos; limitam-os logo montanhas que se elevam de todos os lados; em compensação, porém, o rio, que não é pequeno, e muitas bonitas edificações dão um aspecto agradável à villa.
Muitas e pittorescas ilhas dividem de contínuo as águas do rio, todas cobertas de luxuriante vegetação, destacando-se por sua belleza e extensão a vulgarmente conhecida por ilha do Dr. Muniz de Souza. Há duas balsas para a travessia do rio e no ponto dessa travessia mede elle 70 metros de largura.
A villa conta 4 alfaiatarias, 2 padarias, 2 sellarias, 2 funilarias, 1 casa de bilhares, 2 barbearias, 3 sapatarias, 2 marcenarias, 5 ferrarias, 2 hotéis, 2 pharmacias, 1 atelier de photographo, 1 dito de retratista a óleo, 3 restaurants, 2 fábricas de cerveja, 12 negócios de fazendas, muitos de seccos e molhados cujo número não pude precisar, 2 cocheiras, 2 açougues, 1 relojoeiro, mais de 12 olarias, sendo uma a vapor. Em todo o município há 123 casas de negócio que pagam imposto; os da população são em número de 72.
Existem 11 ruas, 4 praças e 1 bom edifício térreo que serve de cadeia e onde funcciona a Câmara Municipal, sendo também digna de menção a estação do Ramal do Rio Pardo.
As construcções particulares são em geral de tijolos e há muitas bem elegantes, sobresahindo o palacete de Honório Dias, um lindíssimo sobrado que poderia ser destacado mesmo em uma grande cidade. Há seguramente de 40 a 50 prédios em obras, o que quer dizer que a villa cresce com extraordinária rapidez.
A egreja atual é um pequenino pardieiro, que está cahindo em pedaços; há esperanças de se construir uma matriz decente e em fevereiro deste anno foi lançada a primeira pedra no local onde tem de ser erecta.
Os lampeões da illuminação pública já foram collocados nos devidos logares, mas até agora anda-se pelas ruas, algumas bem esburacadas, às apalpadellas nas noites escuras, por falta absoluta de luz, pois ainda nenhum lampeão foi aceso.
Fornece-se a instrucção primária em 2 escolas do sexo masculino, uma pública e outra particular; e não há nenhuma para meninas, pois a que existia fechou-se com a retirada da professora e não foi de novo provida a cadeira.
Os médicos são em número de 4 e advogados formados de 2; existe também 1 dentista. A lavoura de café está em escala ascendente e calcula-se a colheita do precioso grão em 200.000 arrobas. Tratando-se de uma lavoura nova, já é uma safra auspiciosa.
O eleitorado se compõe de 107 eleitores, sendo 78 republicanos, 26 liberais e 3 conservadores. Com a nova revisão do alistamento, o número de eleitores deve ter augmentado.
Incontestavelmente, é de bastante futuro o município de S. José do Rio Pardo, cujo desenvolvimento precoce chama a atenção de todo o espírito observador.
A villa muito em breve será uma lindíssima cidade, de bastante movimento commercial, pois dispõe de elementos sufficientes para futuramente colocar-se a par dos bons centros de actividade de nossa província.
Tenho percorrido muitos municípios paulistas e adquirido certo espírito de observação, eis porque não receio emittir juízo acerca do grau de adiantamento ou atrazo deste ou daquelle.
Na minha opinião, a S. José do Rio Pardo está reservado um bonito futuro e não se pode esperar menos de um município cujas terras são ubérrimas e cujos habitantes, na sua maioria, progressistas, laboriosos e intelligentes, trabalham incansavelmente não só em prol do seu bem-estar como da collectividade, procurando abrir novos horizontes, afim de que dentro em pouco entremos no goso de maior somma de liberdades públicas que só a República nos pode dar.

Jornal "Diário Popular", São Paulo, artigo de Aprígio Cesarino, outubro, 1887.

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