(...) Eu ia subindo pela rua Treze de Maio e achei tudo muito estranho. A rua não tinha calçamento e nem carros. Eu não ouvia nenhum barulho de automóveis, motos, e nem bicicletas nas calçadas. Vários animais estavam amarrados em argolas presas no meio-fio, e nesse momento passou perto de mim um trole puxado por duas mulas. No assento estavam um homem e urna mulher. Ele usava cavanhaque, e ela um longo vestido que ia até os pés. Deviam ser gente importante, pois todos os cumprimentavam tirando o chapéu.
Peguei um programa na calçada onde estava escrito: "Aproveite os preços baixos da Casa Coimbra na sua maior liquidação de 1926". (...)
Caminhei para o Largo da Matriz, passando em frente da casa do coronel Oliveiros Pinheiro, do Clube Ao Ponto e do palacete do Nhô Ribeiro, fazendeiro do município, seguindo depois para o Pavilhão 15 de Novembro, onde estava anunciado o seriado "A Deusa do Sertão", com a atriz Ruth Rolland, e o filme de aventuras "O Tigre do Mar", com o grande astro Edi Polo. O preço da entrada era 300 réis. (...)
Fui em seguida ao Theatro São José, onde estava sendo exibido todo sábado o seriado francês "As Órfãs de Paris". Aquele cinema exibia quase que somente filmes franceses e italianos. Entrei novamente pela rua Treze de Maio passando em frente à sapataria do Alberto Landini e na esquina me defrontei com o imponente prédio do chefe político Tarqüínio Cobra Olyntho.
Fui andando novamente em direção à praça onde avistei a fábrica de móveis do Thomas Del Platô, atrás da Matriz. Ali perto estava a loja de tecidos do Felipe Antônio e a bela residência do médico italiano Dr. Adolfo Bacci. Fui seguindo pela Américo de Campos (hoje Francisquinho Dias) e passei em frente ao açougue do João Beber, a Casa Rondina dos irmãos Parisi e a marcenaria do Rafael Cautela, vindo em seguida a tipografia do Valêncio Bulcão. Na esquina ficava o escritório de contabilidade de Roberto Scarano. Ao lado tinha um boteco de César Langelotti e nos fundos uma ferraria. Vinham em seguida a Casa Confiança, de dona Linda Ramalho, fazendo frente com a venda do maestro Francisco Consolo.
Mais acima a oficina de consertos de máquinas de costura do Caetano Membrives, que tinha ao lado a alfaiataria de Raul Del Guerra. (...) Logo após, a marcenaria de Paschoal Cerávolo (que tinha como vizinho o cidadão russo Miguel Frug), o salão de barbeiro do Carmelo Consolo e a venda do Nicolau Cacciatore com frente para a fábrica de sabão dos Bizzari.
Onde hoje está o prédio dos Correios era a oficina mecânica do alemão Otto Hornschuch. Dobrei a esquina e depois que percorri dois quarteirões fui descendo a Benjamin Constant até a venda do Reinaldo Ferreira. (...)
No começo da rua Benjamin, onde tem início a ladeira da ‘Vargem’, está a Padaria Alemã, do Geraldino Pierri, um artista no violino. Fui caminhando pela rua Marechal Deodoro passando em frente à Casa Lacreta, de Domingos Bello e irmão.
Subi a Campos Salles até a venda do Joaquim da Cruz Navega. Na porta, grandes caixas de bacalhau importados da Noruega e barricas cheias de camarão seco que eram uma delícia. A gente tirava camarão para comer sob as vistas complacentes do dono, que nada dizia (...)
(Trechos extraídos de "Nostalgia", crônica de José Corrêa de Oliveira, publicada em "Gazeta do Rio Pardo", em 5 de maio de 1990)
10.12.08
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